Como a Gurgel Motores, que produziu carros elétricos e populares, faliu e deixou um legado para o mercado nacional
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| Automóvel marca Gurgel, modelo Xef, fabricado no Brasil |
A Gurgel Motores foi uma empresa brasileira que fabricou automóveis entre 1969 e 1996, tendo sido a única indústria automobilística genuinamente nacional. Fundada pelo engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, a empresa tinha como proposta produzir veículos 100% nacionais, com tecnologia própria e adequados às condições do país.
A empresa começou produzindo karts e minicarros para crianças, mas logo se voltou para o segmento de bugues e jipes, que eram muito populares na época. O primeiro modelo de carro foi o Ipanema, lançado em 1970, que utilizava motor Volkswagen. Em seguida, vieram os modelos Xavante, que foram testados e adquiridos pelo Exército brasileiro, e X-12, que foi o principal produto da empresa durante toda a sua existência.
O X-12 era um jipe que se destacava por ter um chassi feito de plasteel, uma mistura de plástico e aço que conferia resistência e leveza ao veículo, e uma carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro, que não enferrujava. Além disso, o X-12 tinha o sistema selectraction, que permitia acionar a tração nas quatro rodas de forma simples e rápida.
A Gurgel também se aventurou no mercado de carros elétricos, sendo pioneira na América Latina. Em 1974, apresentou o Itaipu, um veículo urbano movido a bateria, que podia atingir 80 km/h e tinha autonomia de 80 km. Em 1979, lançou o E-400, um furgão elétrico destinado ao transporte de cargas leves. Esses modelos, no entanto, não tiveram sucesso comercial, devido ao alto custo e à baixa infraestrutura para recarga das baterias.
Nos anos 80, a Gurgel expandiu sua linha de produtos, lançando modelos como o Carajás, um utilitário esportivo de quatro portas, o Supermini, um compacto urbano, e o Tocantins, um jipe com design mais moderno. A empresa também desenvolveu seu próprio motor, o Enertron, que era um motor de dois cilindros opostos, refrigerado a água, que podia ter 0,8 ou 1,0 litro de cilindrada.
Em 1988, a Gurgel apresentou seu projeto mais ambicioso: o BR-800, um carro popular que pretendia ser o primeiro carro 100% brasileiro, sem depender de peças importadas. O BR-800 era um carro de dois lugares, com motor Enertron de 0,8 litro, que podia rodar com gasolina ou álcool. O carro tinha um design simples e funcional, com baixo consumo de combustível e manutenção.
O BR-800 foi lançado em 1990, com o apoio do governo federal, que concedeu incentivos fiscais para a produção e a compra do carro. O BR-800 custava cerca de 7 mil dólares, menos que os carros das montadoras tradicionais. A Gurgel recebeu mais de 70 mil pedidos de reserva do carro, mas não conseguiu atender à demanda, devido à falta de capital de giro e de fornecedores.
O fim da Gurgel
A Gurgel entrou nos anos 90 com boas perspectivas, mas logo enfrentou uma série de dificuldades que levaram à sua falência. A abertura do mercado brasileiro para os carros importados, em 1990, aumentou a concorrência e reduziu a competitividade dos carros da Gurgel, que eram considerados ultrapassados e caros. Além disso, o governo retirou os incentivos fiscais para o BR-800, elevando o preço do carro e desestimulando os consumidores.
A Gurgel tentou reagir, lançando novos modelos, como o BR-800 SL, o G-800 e o Delta, mas não conseguiu recuperar o mercado. A empresa acumulou dívidas com fornecedores, bancos, funcionários e clientes, que não receberam os carros encomendados. Em 1994, a Gurgel entrou em processo de concordata, mas não conseguiu se reestruturar. Em 1996, a empresa teve sua falência decretada pela Justiça, encerrando definitivamente suas atividades.
A Gurgel deixou um legado de inovação e ousadia para o mercado automobilístico brasileiro, tendo produzido cerca de 30 mil veículos genuinamente nacionais, com tecnologia própria e adaptados às condições do país. Hoje, os carros da Gurgel são peças de colecionador, que despertam a admiração e a nostalgia dos apaixonados por automóveis.
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